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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Experiências

      Conhecer novos lugares, outras pessoas, e outras culturas é sem dúvida uma experiência incrível que amplia nossos conhecimentos e melhora a nossa percepção sobre a vida.

     No último feriado prolongado tive a oportunidade de viver uma nova experiência, certamente satisfatória. Um acampamento de três dias na Ilha do Mel. Uma atividade realizada com muito mais vontade do que dinheiro, sem luxo, mas com muita alegria e paz, afinal, desfrutar a natureza com os amigos é algo que não pode ser avaliado monetariamente.
           
      Viver de uma maneira diferente da habitual, ainda que por pouco tempo, nos faz evoluir, possibilita fazermos uma reavaliação sobre a nossa vida, nossos costumes, hábitos, valores. A experiência de passar alguns dias longe da cidade, praticamente sem comunicação com o restante do mundo, sem ouvir ou ler qualquer a notícia em qualquer que seja o meio de comunicação, permite perceber o quanto sobrecarregamos nossas mentes com coisas que pouco prazer nos proporcionam, e que ao contrário, nos deprime e nos estressa. Percebemos que, muitas vezes, temos tantas coisas que, na realidade, são dispensáveis, coisas de que nos tornamos dependentes sem perceber que de nada dependemos delas. Enfim, para percebermos que podemos ser muito mais livres se realmente quisermos.

      É interessante observar como as pessoas se comportam e reagem nessas situações, completamente diversas do que são acostumadas a viver em seu dia a dia. Algumas simplesmente ficam a vontade com isso, e até mais felizes, foi assim que me senti na ilha. Por outro lado, existem aqueles que apresentam grandes dificuldades em desapegar dos "confortos" da civilização urbana, é visível a necessidade de algumas pessoas em usufruir de algumas tecnologias, mesmo não sendo elas necessárias. Imagine trocar as ondas do mar para navegar na internet. Fixar os olhos em uma tela de TV ao invés de fixá-los nas paisagens naturais. Ouvir o som de buzinas e sirenes ao invés do som do mar e dos pássaros.

     Há tanto para vermos neste mundo, tantos locais para explorar, tantas pessoas para conhecer, tantas histórias para viver, e no entanto, a maioria de nós não consegue se desprender. A comodidade, a insegurança, e a visão fechada  nos impede de viver aventuras. É claro que nem sempre conseguiremos fazer tudo o que planejamos, não há garantia de que a experiência será satisfatória ou não, mas certamente aprenderemos algo novo em cada passo que dermos.

     Viver é isso, ter experiências, aprender, descobrir, e assim evoluirmos. Apenas precisamos aprender a desfrutar cada uma de nossas experiências, e extrair o máximo possível delas, não basta simplesmente viver uma situação, é necessário absorver o conhecimento que ela nos proporciona.

      

sábado, 2 de novembro de 2013

Não se estresse

Foto: Joeci R. Godoi


Não se estresse, nada há a fazer ou desfazer

Livre e Natural: Uma Canção Espontânea
Pelo venerável Lama Gendun Rinpoche

A felicidade não pode ser encontrada
através do grande esforço, nem de força de vontade,
mas já está presente quando se relaxa e se solta tudo.
Não se estresse,
nada há a fazer ou desfazer.

Aquilo que surge momentaneamente no corpo-mente 
não tem importância verdadeira, 
e tem pouca realidade.

Por que se identificar e se apegar a isto, 
julgando-o e a nós mesmos?
É muito melhor simplesmente
deixar que todo o jogo aconteça por si mesmo,
levantando-se e caindo de volta como as ondas…
sem mudar ou manipular nada…
e perceber como tudo desaparece
e reaparece, magicamente, repetidamente,
infindavelmente.

É apenas a nossa busca pela felicidade
nos impede de enxerga-la.
Parece um arco-íris brilhante que perseguimos sem nunca alcançar,
ou como um cachorro correndo atrás da própria cauda.

Apesar de a paz e a felicidade não existirem
como coisas ou lugares reais,
elas estão sempre acessíveis
e nos acompanham a cada instante.
Não acredite na realidade
elas são como o clima efêmero de um dia,
ou como um arco-íris no céu.

Desejando segurar o que é impossível de ser seguro,
você se exaure em vão.
Logo que você relaxa o punho cerrado da avidez,
aparece um espaço infinito — aberto, convidativo e confortável.
Faça uso deste espaço, desta liberdade, deste conforto natural.
Não procure mais longe.
Não entre em uma floresta fechada
procurando pelo grande elefante desperto.
Ele já está descansando, silenciosamente, em casa,
em frente à sua lareira.

Nada a fazer ou desfazer,
nada a forçar,
nada a desejar
e nada faltando —
Emaho! Maravilhoso!
Tudo acontece por si mesmo.

 Traduzido por Dakpo Kagyu Ling, em Dordonha, França -
Texto extraído do livro ” O despertar do Buda Interior” de Lama Surya Das

domingo, 20 de outubro de 2013

Andar A Pé

       Andar A Pé! Título da obra Henry David Thoreau que relata uma de suas formas de contemplação da natureza através de de uma atividade que vem, aos poucos, sendo desprezada pelas pessoas, apesar de seus benefícios serem de conhecimento de todos.

     Caminhar ainda é direito de todos, é gratuito, e não requer treinamento. Logo, não há desculpas para não praticar essa atividade. Thoreau demonstra que certas contemplações só podem ser feitas através de uma caminhada, e ele está certo disso. Pois quando caminhamos por algum lugar prestamos mais atenção aos detalhes das paisagens, existe uma maior interação com o meio, e é isso que faz essa atividade ser tão agradável.

        Lembro das caminhadas que, junto com os amigos, fazia em tempos passados. O passeio que nos levava a casa de nossos amigos do interior era sem dúvidas divertido e inspirador. Percorrendo as estradas rurais conversávamos sobre diversos assuntos, e cada mudança de paisagem, cada cenário novo inspirava um novo diálogo. Hoje, apesar de limitar minhas caminhadas ao perímetro urbano, continuo realizando meus passeios, descobrindo novos lugares, conhecendo outras pessoas, e sempre há algo de interessante nesses caminhos, que mesmo já conhecidos, estão sendo agora, descobertos por uma nova pessoa.

       Por comodidade as pessoas, em sua maioria, está deixando de andar a pé, seja andar apenas por andar, sem rumo, sem um destino traçado, ou até mesmo caminhas para ir a determinado local, mesmo que este seja muito próximo do local de partida, e isso sem dúvida é um desperdício de uma ótima atividade.  Muito estão limitando suas caminhadas no trajeto de suas cadeiras até seus carros e destes para outra cadeira.

       
         Caminhar amplia a nossa percepção sobre aquilo que nos cerca, nos dá sessação de liberdade, pois não precisamos seguir um caminho construído, ou mudar de direção apenas onde é permitido, andando a pé nós traçamos nosso caminho da maneira que nos convém. Caminhem! Seja pelas ruas, calçadas, trilhas, na praia, no mato, ou na cidade, mas não fiquem parados. Caminhem! Seja com destino determinado ou a esmo!
      "Sentimos que aqui nas cercanias quase só nós praticamos esta nobre arte, muito embora, para usar de franqueza, a maioria dos citadinos, a julgar pelo que afirmam, gostariam de, como faço, caminhar de vez em quando, mas não podem. Nenhuma fortuna é capaz de comprar os requisitos lazer, liberdade e independência, que são essenciais nesta profissão."
 Thoreau, H. D. - Andar A Pé

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Sem Pressa

     Parar e relaxar é uma prática muito importante para mantermos a nossa boa saúde mental e emocional, na postagem anterior comentei a respeito da pratica de descansar, e afastar-se por um instante de todos os tipos de pressões, mas existe ainda uma outra forma de levarmos nossa vida mais leve.

       Viver sem pressa, essa é a proposta do Slow Down Attitude, uma nova cultura que tem por objetivo frear a nossa vida, permitir realizar nossas atividades sempre com calma, e manter a cabeça fria quando em situações adversas. E vai ainda mais além da atitude de manter a calma. Esse novo conceito cultural estimula atitudes mais humanistas nos relacionamentos interpessoais, e a retomada de alguns valores antigos usurpados pelo estilo de vida moderno desenvolvido com a globalização, retoma a importância de aproveitarmos o tempo livre e relaxar.

     O Fugir Para O Mato surgiu com um propósito semelhante, sendo utilizado tanto em seu sentido figurado, fugindo apenas mentalmente ou temporariamente, quanto no sentido real de realmente deixar a vida urbana moderna de lado para viver junto a natureza e desenvolver-se com ela, ao ritmo natural da existência de cada ser vivo.

      Praticar a Slow Down Attitude pode parecer muito difícil, no entanto, se a considerarmos como uma mudança lentamente gradativa, veremos que é mais fácil do que se imagina, e digo isso por experiência própria, de alguém que passou da personalidade característica de nitroglicerina para um indivíduo mais tolerante e calmo, e  por conseguinte, muito mais feliz.

        Como ponto inicial devemos ter em nossas mentes a consciência plena de que alguns fatos independem de nós, e que nada que façamos poderá mudá-los, só não podemos confundi-los com aqueles que  podemos controlar, e quanto a esses, não devemos nos tornar um mártir deles. Uma cobrança menos intensa sobre nossa perfeição é o que pode nos tornar ainda melhores, e não ao contrário, pois a pressão de uma cobrança extremamente rígida nos induz, na grande maioria das vezes, a cometer erros, que seriam evitáveis se agíssemos com mais calma.

     É muito comum ouvir as pessoas dizerem "Porque é que quando estamos com pressa, parece que tudo dá errado!". Talvez seja porque realmente as coisas não ocorrem da maneira correta mesmo. Quando estamos com pressa, normalmente passamos a agir de forma mais mecânica do que lógica, por tanto a probabilidade de cometermos alguma falha é muito grande. Logo é importante reservarmos um instante antes de começar qualquer atividade, mesmo que está esteja no limite de prazo, para pensarmos na melhor forma de realizá-la, e só então dar início de forma calma, porém bem planejada.

     Nem sempre o que irá determinar o tempo de execução da atividade é a velocidade com que a realizamos, mas sim a maneira como a conduzimos. Um trabalho bem planejado normalmente sairá bem feito, assim, percebemos que a calma é chave para os bons resultados.

      "Fazer devagar e bem feito" Acessem esse link e vejam um exemplo de como a Slow Down Attitude é algo praticável e que produz apenas benefícios aos praticantes. Não corra, não tenha pressa, aproveite cada momento, relaxe, e os bons resultados acontecerão.    



sábado, 28 de setembro de 2013

Relaxar

   Todos concordam que precisamos descansar em algum momento de nossas vidas, no entanto, a humanidade segue um estilo de vida que pouco nos permite parar para descansar.

   Recentemente, lendo um trecho do livro "Paz A Cada Passo" de Thich Nhat Hanh, parei para pensar em como isso se encaixa perfeitamente no estilo de vida moderno. Reflitam sobre esse pequeno parágrafo:

Thich Nhat Hanh - Monge Budista

"Muitas vezes dizemos a nós mesmos, “Não fique só aí sentado, faça alguma coisa!” Quando praticamos a plena consciência, porém, descobrimos algo inusitado. Descobrimos que o contrário pode ser ainda mais valioso: “Não fique aí fazendo alguma coisa. Sente-se!” Precisamos aprender a parar de vez em quando a fim de ver com nitidez. A princípio, “parar” pode parecer uma “resistência” à vida moderna, mas não se trata disso. “Parar” não é só uma reação; é um estilo de vida. A sobrevivência da humanidade depende de nossa capacidade de desacelerar. Temos mais de 50.000 bombas atômicas, e mesmo assim não conseguimos parar de fabricar mais. “Parar” não significa um basta ao que é negativo, mas também permitir que se realize uma cura positiva. É esse o propósito da nossa prática — não evitar a vida, mas experimentar e comprovar que a felicidade é possível agora e também no futuro." Thich Nhat Hanh - Paz A Cada Passo

   Podemos considerar raros os casos de pessoas que não vivem sobrecarregadas de afazeres, não lhes restando muito tempo para descansar e relaxar, algumas já não creem que seja possível parar ou mesmo reduzir esse ritmo agitado em que vivem, e isso, normalmente, propicia alguns males ao indivíduo.

   O stress, considerado o mal do século, resulta desse estilo de vida frenético que cada vez menos leva em consideração o bem estar do ser humano, e os transformas em seres irritados que se preocupam mais em obter bens do que sentir-se bens. 

   
  
  Alguns agem como se não pudessem parar nem por um segundo, é comum vermos isso no trânsito por exemplo, experimente ficar mais de um segundo parado quando o semáforo muda para o verde, algum estressadinho vai buzinar, como se ele estivesse perdendo a vida toda naquele segundo. Faz sentido agirmos dessa maneira? 

 O tempo minuciosamente pré-programado limita as escolhas, e assim, até mesmo as atividades de lazer acabam sendo agendadas, com tempo e local marcados previamente, e tudo isso para não se perder tempo. Mas será que não é dessa forma que estamos perdendo nosso tempo? Desperdiçando-o com compromissos sistemáticos?


   A busca incessante pelo sucesso e pela conquista dos sonhos pode tornar-se um pesadelo cheio de frustrações se não pararmos para apreciar o que está no caminho que nos leva ao nosso objetivo, e essa maneira de viver em velocidade máxima está nos privando de observar as maravilhas que estão ao nosso redor. Descansar não é sinônimo de preguiça, mas sim de autopreservação. 
    Se quisermos seguir fortes em nossos objetivos devemos reservar alguns momentos para limparmos nossas mentes, aliviar toda tensão que a vida moderna nos propicia.

   Como Thich Nhat explica, não devemos desistir de nossos sonhos e objetivos, mas não podemos desprezar toda uma vida que ocorre ao nosso lado, para obter aquilo que desejamos no futuro, ou seja, não podemos esperar para sermos felizes, temos que sê-lo agora, aproveitar cada momento, afinal, a vida deve acontecer agora e não ser programada para mais além.

sábado, 14 de setembro de 2013

Em Busca De Um Sentido

       Encerrada a leitura do livro Na Natureza Selvagem, sinto-me apto a fazer alguns comentários sobre a experiência marcante, e sobre ele mesmo, o aventureiro Christopher Johnson McCandless (Alexander Supertramp).

  Um dos aspectos mais interessantes do ser humano é a sua capacidade de interpretar os fatos a sua maneira e assim desenvolver suas próprias conclusões, suas teorias, embora nem sempre de forma sensata e tampouco correta, mas que quando bem explanadas, essas ideias podem alimentar boas discussões em busca da explicação mais plausível.


  Após o corpo de Chris ser encontrado pelos caçadores inciou-se uma grande especulação sobre o ocorrido, e nessas horas o que não faltam são opiniões das mais diferentes formas possíveis, algumas bem embasadas, outras quase nada, algumas puramente emocionais e outras baseadas nos conhecimentos de quem realmente entende o objeto em questão.

     O fato de Alex ter deixado sua família, da forma que o fez, mantendo-se incomunicável, é visto por uma grande parcela das pessoas como um ato egoísta de rebeldia sem sentido, no entanto se analisarmos o propósito da odisseia que ele criou, e a maneira como seus pais agiram diante da situação, fica claro que ele não teria outra forma de seguir em frente, não fosse desaparecendo sem deixar rastros.



     Dizem os matutos mais experientes que Supertramp não estava, de forma alguma, preparado para encarar um aventura tão perigosa. De fato ele não estava, nas de uma certa forma porém, estava certo do que queria. É obvio que teria sido mais fácil se tivesse ele todos os petrechos apropriados para uma aventura no extremo selvagem, mas os relatos conhecidos indicam claramente que ele não queria assim. Afinal, como provar que a experiência de viver da natureza seria possível se ao mesmo tempo em que fosse viver de maneira selvagem, levasse com ele todos os equipamentos modernos que permitir-lhe-iam sua sobrevivência?

    Em que estado estava a sanidade mental de Chris quando partiu para essa jornada sem regresso, ainda é motivo de discussões. Independentemente disto ele nos proporcionou uma visão crítica e autoavaliativa sobre a maneira como vivemos, pensamos e agimos. Sua negação a sociedade é vista como algo impossível de se conceber, e é um pouco contraditória de fato, mas é compreensível se conseguirmos analisar os verdadeiros motivos. 


   Se analisarmos a convivência de um ângulo diferente, veremos que muito daquilo que fazemos não está certo, e que estamos apenas nos enganando, seguindo os passos de outros ao invés de traçarmos nossos próprios caminhos.

   Não precisamos fazer o que Supertramp fez para atingirmos essa percepção sobre a humanidade, basta refletirmos e mudarmos, talvez assim, poderemos desenvolver uma nova forma de sociedade, com mais ênfase no fator humano do que fator material, tal como é o presente.

Ônibus Magico - Abrigo de Supertramp durante sua estadia no Alasca                 Fonte: Na Natureza Selvagem
   A morte de Chris jamais poderá ser visto como uma perda tola e evitável, mas sim como um marco para uma mudança, e antes de tentarmos entender os anseios intimo desse jovem aventureiro devemos compreender a mensagem que ele pode transmitir ao mundo através de sua odisseia mortal. 

   Supertramp não foi o único, e muitos outros apareceram para tentar nos mostrar que que a humanidade está empreendendo um grande esforço para obtermos aquilo de que não precisamos.

sábado, 7 de setembro de 2013

Uma Nova Estação

     O inverno está chegando ao fim e o calor está voltando a reinar, nossos dias deixam de ser cinzas e a vontade de curtir a natureza aumenta ainda mais.

     Não que o inverno seja uma estação ruim ou chata, mas as condições climáticas dessa época nos deixam mais preguiçosos, e os atividades ao ar livre costumam ser evitadas pela maioria. E mesmo os amantes do frio ficam felizes quando surge aquele dia muito mais ensolarado dentre tantos outros frios e nebulosos, momento este em que podem sair para recarregar suas energias.

     Por mais que as temperaturas mais extremas nos proporcionem alguma dificuldade para a realização das atividades de contato com a natureza, não devemos deixar esses empecilhos privar-nos da diversão e do lazer.  Se correr tornou-se complicado devido a baixa temperatura, apenas caminhe até que consiga voltar ao ritmo dos  dias quentes.


    Ficou claro que nem todos tem disposição para deixar os abrigos quentinhos para respirar o ar, gelado, mas puro dos parques da cidade, preferindo hibernar por todo o inverno, e agora estão dando as caras novamente para aproveitar o calor que aumenta, lentamente, dia após dia.
   
    Os dias quentes são meus preferidos, no entanto, pude desfrutar bastante desses dias frios que antecederam, e como é bom poder fotografar a geada ao nascer do sol, é claro que com as mãos tremendo de frio algumas fotos não ficam muito boas, mas nada que um café quente não cure depois.

      Viver em uma região tropical com estações bem distintas nos permite desfrutar diversas sensações relacionadas ao clima, sem precisar ir para longe. Temos o privilégio de ver as paisagens ao nosso entorno modificando-se gradativamente ao passar dos dias, as plantas mudam, os animais mudam, e principalmente os humanos mudam, cada um se adaptando a sua maneira a uma nova fase. 
   
     O mais importante é sabe aproveitar cada momento, adaptando-se da melhor maneira possível ao clima do momento, conseguiremos interagir o tempo todo com a natureza sem prejuízos, essa é chave. Adaptação.

Então, vamos lá! Curtir os nossos novos dias de sol!

domingo, 1 de setembro de 2013

Será esse o nosso futuro?

      Certamente, em algum momento da sua vida, você já parou para imaginar como será o futuro, como serão nossas casas, os carros, os objetos que nos cercam, e em como será a natureza e o quanto ela será modificada. Várias dessas projeções imaginárias são transformadas em filmes, livros e outras obras de arte.

    Dirigido por Andrew Stanton, o filme de animação Wall-E traz uma versão pouco animadora sobre o futuro da humanidade, em cenas que por vezes parecem ser exageradas, mas que no entanto são possíveis de se tornarem a nossa realidade se não promovermos uma mudança comportamental agora mesmo.

    O desajeitado e simpático robozinho Wall-E habita o devastado planeta Terra do futuro, compactando as sucatas do que outrora foram os preciosos bens materiais dos humanos que, após esgotarem os recursos naturais do planeta, o abandonaram e partiram para o espaço onde vivem agora em um ambiente totalmente artificial em condições no mínimo bizarras.   






   Nesse futuro idealizado pelos produtores do filme podemos constatar uma evolução, digamos "ao contrário", onde os humanos acabam perdendo sua capacidade motora devido ao excesso de aparelhos tecnológicos que realizam praticamente todas as atividades básicas para os homens, desde caminhar, vestir-se e alimentar-se. Os humanos agora não passam de indivíduos atrofiados sem se quer terem a capacidade de ter contato com os outros, mantendo as "relações interpessoais" apenas de forma virtual.

        E como reverter tal situação??? É simples, e esse filme faz uma grande revelação. A mudança!

      Depois de que o robô EVA encontra uma planta na Terra, que caracteriza uma prova de que poderia a natureza ser restaurada, o Capitão da espaçonave planeta passa a agir de uma forma diferente, abandonando o comodismo proporcionado pela tecnologia que impede os humanos de pensarem por conta própria. Assim ele começa a estudar o passado, percebendo quantas coisas boas foram deixadas para traz durante esse processo evolutivo danoso, e não tem dúvidas de que a vida de antes era melhor do que a esta estavam vivendo.

        O desfecho dessa história é uma prova, e também um grande exemplo, de que precisamos mudar nosso comportamento, abrir nossas mentes, aprender mais sobre nós mesmo e nosso planeta, para que possamos continuar vivendo aqui por muitos e muitos anos, com uma boa qualidade de vida, sem nos perdermos e nos destruirmos.

     Wall-E, um filme excelente para ser usado em aulas de Educação Ambiental, pois é disso que precisamos, fazer com que as próximas gerações cresçam com uma visão diferente, mais humanas, mais participativas, menos acomodadas, e menos conformistas. Um mundo melhor só depende da nossa atitude!

sábado, 24 de agosto de 2013

Rústico, Moderno ou Simples?

        Nesses tempos modernos em que os empreendedores optam, comumente, por incrementar seus estabelecimentos com os objetos e tecnologias mais modernas, alguns se sobressaem ao integrar a modernidade com elementos simples e rústicos, e assim vemos crescer esses conceitos de construções sustentáveis e integradas a natureza.

Fonte: http://www.kaggakamma.co.za/gallery.shtml
      Após milhares de anos vivendo fora das cavernas, agora os humanos estão usando um dos mais primitivos abrigos como hotel 4 estrelas, claro que agora com algumas regalias a mais. Na Reserva Natural Kagga Kamma na África do Sul, onde os visitantes podem repousar em espécies de cavernas modernas, e até mesmo dormir numa confortável cama ao ar livre, tendo como teto o magnífico céu estrelado. Com
preços em torno de R$ 520,00 a R$ 620,00, aqueles que não gostam de acampar em uma barraca ou saco de dormir, podem desfrutar de uma noite em uma caverna com ar condicionado, cama de luxo, terraço, e banheiro, além da opção de dormir ao ar livre.

         Fora de todo esse luxo, o local fornece algumas atividades naturais e divertidas como trilhas para caminhadas, rotas  para veículos motorizados que podem levar os turistas a paisagens incríveis, safáris com a possibilidade de visualização de animais selvagens endêmicos; passeio pelas pinturas nativas em rochas, um mini observatório que permite ver as estrelas de uma forma que seria impossível ver em centros urbanos devido ao excesso de luzes artificiais. Todas as atividades são acompanhadas por guias especializados.

Fonte: http://www.kaggakamma.co.za/
      Isso é um exemplo de como algumas pessoas não conseguem perceber aquilo que a natureza nos disponibiliza gratuitamente, e acabam tendo que pagar para desfrutar os lazeres simples, como dormir sem um teto sobre a cabeça junto à uma bela paisagem natural. Contudo, ainda considero essa uma boa ideia para os não tão aventureiros conhecerem um pouco mais da natureza, sem se desprenderem dos confortos modernos.


É!! Agora ninguém tem desculpa pra não ir para o mato!
https://plus.google.com/u/0/104720255990638272087/posts/9KHkVpn5AtD
     

     Com quantos bambus se faz um paraíso???

Fonte: http://greenvillagebali.com/
        E pra quem prefere um lugar ainda mais verde, em Bali foi construída uma vila utilizando como matéria prima principal o bambu, está é a Green Village Bali. Ela está localizada nas margens do Rio Ayung, seu objetivo foi possibilitar uma integração com a natureza, construindo residências de maneira sustentável e artesanal, utilizando elementos simples para criar ambientes sofisticadamente agradáveis.


Fonte: http://greenvillagebali.com/
       O projeto foi elaborado em parceria com a Escola Verde, um centro de estudos localizado nas proximidades da vila, que busca o aperfeiçoamento e desenvolvimento das técnicas de arquitetura sustentável e artesanal. Algumas dessas "cabanas sustentáveis e artesanais"  podem ser alugadas por alguns dias, podendo também, serem compradas para moradia permanente, e uma porcentagem dos valores obtidos nas vendas e locações é destinado para bolsas de estudos na Escola Verde.

        "Ao utilizar materiais sustentáveis e artesanais criamos um conceito de desenvolvimento único" afirma a chefe de designer do projeto Elora Hardy, que garante que as residências são construídas de maneira a não perturbar a integridade natural da terra. Esse é o conceito que melhor define a sustentabilidade, desenvolver-se sem prejudicar o natural.
     
         Seja para passar somente as férias ou o resto da vida, esse lugar parece-me ideal, a paisagem que gostaria de ver todas as manhãs, o ar que gostaria de respirar sempre.
Vejam mais detalhes do projeto no site: http://greenvillagebali.com/


sábado, 17 de agosto de 2013

Mentalmorfose

"Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo!"
 Raul Seixas


   Essa música representa uma das grandes virtudes dos grandes sábios, a de conseguir mudar suas opiniões e seus conceitos de acordo com aquilo que aprendem durante sua existência. Mahatma Gandhi disse, uma certa vez, que se quiserem saber o que ele pensava sobre determinado assunto que deveriam ler o que ele por último havia escrito a respeito de tal assunto.

   Mudar nossos conceitos não é uma questão de submissão a determinada filosofia, religião ou inclinação política, mas sim uma evolução que nossa mente pode atingir, o que pode ser considerado a "Mantalmorfose", e par isso é preciso mudar por vontade própria, seguir exemplos sim, mas nunca fazê-lo cegamente, sem refletir sobre isso, deixando apenas se levar pela onda do momento.

   Confesso que quando comecei a escrever este post tinha em mente um discurso diferente, mas resolvi mudar, pois achei que seria pesado demais, e um tanto quanto desestimulante, e talvez pudesse ser mal compreendido.

   Desde que comecei a expor minhas ideias neste blog, assim como para as pessoas do meu circulo social, notei o quanto a maioria das pessoas é resistente a mudanças, até mesmo de simplesmente pensar nisso, então vem na mente aquele pensamento "não temos solução mesmo". Mas isso não me faz desistir, apenas mudar a estratégia.

   Não mais tentarei persuadir as pessoas sobre esses conceitos, apenas manterei meus princípios, e até mesmo os ampliarei, não para convencer, e sim para demonstrar as possibilidades de viver melhor a moda de Fugir Para O Mato.


   Isso me ocorreu quando li o texto que segue abaixo, com o título "Não se leve tão a serio":


"A ideia fixa que temos de nós mesmos como sólidos e separados uns dos outros é dolorosamente limitadora. É possível se mover dentro do drama de nossas vidas sem acreditar tão fervorosamente no papel que desempenhamos.
Levar-nos tão a sério, e nos dar tanta importância em
nossas próprias mentes, é um problema para nós; nos sentimos justificados em ficar irritados com tudo, nos sentimos justificados em nos autodenegrir ou em achar que somos mais espertos que as outras pessoas.
Temos duas alternativas: ou questionamos nossos condicionamentos ou não. Ou aceitamos nossas versões fixas sobre a realidade, ou começamos a desafiá-las. Na opinião do Buda, treinar em permanecer aberto e curioso — treinar em dissolver nossas suposições e condicionamentos — é o melhor uso para nossas vidas humanas."
 Trecho do livro  'The Pocket Pema Chodron'- Pema Chodron.



    A mensagem é clara, devemos buscar a nossa felicidade, isso basta, revoltar-se, indignar-se com os problemas do mundo é natural, mas não devemos deixar que isso nos ponha para baixo, o que temos a fazer é demonstrar, naturalmente, que nossas vidas podem ser mais simples, que podemos ser mais felizes, e as pessoas, pouco a pouco, descobrirão em você um exemplo a seguir, sem que tenhamos que nos desgastar para que elas percebam tal qualidade.  
    Se a sua felicidade não está causando sofrimento a nenhum outro ser vivo, nem ao nosso ambiente, então desfrute-a, torne-se o bom exemplo que a humanidade precisa seguir.



"A felicidade não está em viver, mas em saber viver. Não vive mais o que mais vive, mas o que melhor vive."
Mahatma Gandhi

sábado, 10 de agosto de 2013

Simples

     Acredito que todo ser humano nasce com a predisposição para seguir pelo caminho da simplicidade, mas infelizmente o meio em que vivemos exerce uma enorme influência comportamental e acabamos perdendo a nossa virtude de sermos simples. 

      Citando alguns trechos de um artigo publicado no site Pragmatismo Político (Leiam na integra), que discorre sobre a atitude que algumas pessoas adotaram em busca de uma vida mais simples, trarei a vocês um pouco mais sobre a ideologia principal do blog: Viver simples!

Fonte: http://www.euvoudebike.com/tag/links/
     Moldados todos na mesmo forma social, recebemos desde o nascimento as diretrizes à que devemos seguir, somos influenciados por todos com quem convivemos, por aquilo que vemos e ouvimos. Evidentemente algumas pessoas tem a honra de serem educadas e influenciadas de maneira seguir na contramão da sociedade, mas isso só é possível para aqueles que escolhem, através de seu instinto mais intimo, viver dessa maneira, viver da forma mais simples possível.


      Sempre que ouvimos falar de alguém que está vivendo na simplicidade indagamos o porque de tal atitude. Seria necessidade? Limitação de escolhas? Insanidade? Não mesmo!!! Em minha opinião são apenas pessoas que realmente estão vivendo o que querem, indivíduos que não precisam mascarar-se com bens para dizerem-se felizes. 

     Vejamos alguns exemplos do que pensam essas pessoas, extraídos do artigo 'Conheça homens e mulheres que optaram por uma vida mais simples':
"A simplicidade nos obriga a olhar para nós mesmo." Frei Jonas Nogueira
" Ser simples tem a ver com bem-estar e consciência." Débora Paglioni (Advogada)
"Ser simples traz conforto, prazer, alegria e felicidade." Guilherme Moreira da Silva
“Sempre gostei dessa opção de vida, e queria fazer essa experiência. Você percebe que tem outras prioridades na vida. Passei a fazer mais programas ao ar livre, a aproveitar atividades intelectualizadas. Quando estamos imersos no consumo, deixamos o que nos dá prazer em segundo plano. Passada essa experiência, hoje compro bem menos e me foquei no que é essencial para mim.” Marina Paula Silva Viana (Psicóloga)
“Essa opção de vida me faz sentir em harmonia comigo mesma. Quando fiz essa escolha, é como se tivesse responsabilidade com as pessoas ao meu redor....Nunca fiz escolhas motivada pelo financeiro.” Priscila Maria Caliziorne Cruz


      Cada qual com suas próprias palavras nos revelam um senso comum: basear a nossa felicidade nas coisas simples e não em bens materiais com somente valor monetário.  Há tempo procuro desapegar-me dos bens materiais, nunca tê-los apenas por ter, procurar, na essência, suprir as necessidades, não depender de objetos "brilhantes e reluzentes" para ser feliz.

      Mas não pensem no exagero jamais, simplificar não significa eliminar, como explica Carlos Roberto Darwin (Psicanalista e Dr. em Filosofia) ao falar sobre o desapego:
“Vem de uma sabedoria grega. Não é só no sentido de não ter bens materiais, mas não transformá-los em uma tirania.”

    Considero essa uma das melhores filosofias de vida, talvez a única maneira de obter a felicidade verdadeira. Quando deixamos de pensar em ter tudo aquilo que o mercado nos oferece de melhor e de mais caro, conseguimos nos dedicar a atividades que nos trazem bem estar, dessa forma isso reduz a nossa insegurança social, uma vez que deixamos de nos esforçar em mostrar nossos bens, e passamos a transmitir aos outros a nossa felicidade e paz interior obtidas através de nossa vida em plena simplicidade.

      Não se deixem consumir pelos objetos, libertem-se e vivam!

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Pois é! Aconteceu: Monsanto e Syngenta recebem o Nobel da Agricultura



   "A sociedade compõe-se de duas grandes castas: a dos que têm mais comida do que apetite e a dos que têm mais apetite do que comida." , Nicolas Chamfort




    Vivemos em um mundo ao contrário, no qual se premia as multinacionais da agricultura transgênica enquanto acabam com a agricultura e a agrodiversidade. O Prêmio Mundial da Alimentação 2013, o que alguns chamam de Nobel da Agricultura, foi concedido este ano para os representantes da indústria transgênica: Robert Fraley, da Monsanto e Mary-Dell Chilton, da Syngenta. O terceiro premiado foi Marc Van Montagu, da Universidade de Gante (Bélgica). Todos eles distinguidos por suas investigações a favor de uma agricultura biotecnológica.


   E me pergunto: Como pode ser que se conceda um prêmio que, teoricamente, reconhece "as pessoas que têm feito avançar (...) a qualidade, a quantidade e o acesso aos alimentos” aos que promovem um modelo agrícola que gera fome, pobreza e desigualdade. Os mesmos argumentos, imagino, que levam a conceder o Prêmio Nobel da Paz aos que fomentam a guerra. Como diz o escrito Eduardo Galeano, em seu livro "Patas arriba” (1998), "se premia ao contrário: se despreza a honestidade, se castiga o trabalho, se recompensa a falta de escrúpulos e se alimenta o canibalismo”.


   Querem que acreditemos que as políticas que nos conduziram à presente situação de crise alimentar serão as soluções; porém, isso é mentira. A realidade, teimosa, nos demonstra, apesar dos discursos oficiais, que o atual modelo de agricultura e alimentação é incapaz de dar de comer às pessoas, cuidar de nossas terras e daqueles que trabalham no campo. Hoje, apesar de que, segundo dados do Instituto Grain, a produção de alimentos multiplicou-se por três desde os anos 60, enquanto que a população mundial desde então apenas duplicou, 870 milhões de pessoas no mundo passam fome. Fome, pois, em um planeta da abundância de comida.


   A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) reconhece que nos últimos cem anos desapareceram 75% das variedades agrícolas. Nossa segurança alimentar não está garantida, se depender de um leque cada vez mais reduzido de espécies animais e vegetais. Definitivamente, são promovidas as variedades que mais se adequam aos padrões da agroindústria (que podem viajar milhares de quilômetros antes de chegar ao nosso prato, que tenham um bom aspecto nas prateleiras do supermercado etc.), deixando de lado outros critérios como a qualidade e a diversidade do que comemos.


    Nos dizem que temos que produzir mais alimentos para acabar com a fome no mundo e, em consequência, que é necessária uma agricultura transgênica. Porém, hoje, não falta comida; sobra! Não temos um problema de produção, mas de acesso. E a agricultura transgênica não democratiza o sistema alimentar; ao contrário, privatiza as sementes, promove a dependência camponesa, contamina a agricultura convencional e ecológica e impõe seus interesses particulares ao princípio de precaução que deveria prevalecer.


   Marie Monique Robin, autora do livro e do documentário "O mundo segundo a Monsanto” (2008), deixa claro: essas empresas querem "controlar a cadeia alimentar” e "os transgênicos são um meio para conseguir esse objetivo”. Prêmios como os concedidos a Monsanto e a Syngenta são uma farsa ante a qual somente há uma resposta possível: a denúncia. E ressaltar que outra agricultura somente será possível à margem dos interesses dessas multinacionais.


Outras decisões da FAO:

   A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, afirmou que a agricultura é fundamental para a humanidade.
Segundo o vice-diretor-geral da FAO, Dan Gustafson, a adaptação do setor agrícola, não é somente uma opção, mas sim, imperativo para a sobrevivência humana.
     A FAO explica que 80% da dieta do ser humano é composta por plantas. Aproximadamente 30 tipos de colheitas correspondem a 95% das necessidades de alimentos das pessoas.
Os especialistas dizem que dessas 30 colheitas, cinco, arroz, trigo, milho, painço, que é uma derivado do milho, e o sorgo, tipo de cereal usado para fazer a farinha, fornecem 60% dos alimentos.


    A má nutrição custa ao mundo cerca de US$ 500 (aproximadamente R$ 1 mil) por indivíduo ou US$ 3,5 trilhões (R$ 7 trilhões) por ano, valor equivalente ao PIB da Alemanha, a maior economia da Europa, de acordo com cálculo publicado em um novo relatório FAO - O Estado da Alimentação e da Agricultura 2013. O montante também equivale a 5% do PIB mundial e foi calculado com base nos custos relativos à perda de produtividade e gastos com a saúde gerados por uma dieta deficiente.
     Os dados constam de relatório publicado ontem (04/06/13) pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). No documento, o diretor do órgão, o brasileiro José Graziano, pediu esforços mais consistentes para erradicar a má nutrição.

    O estudo assinala que a alimentação precária das mães e das crianças continua a reduzir a qualidade e a expectativa de vida de milhares de pessoas, assim como problemas relacionados à obesidade, como doenças cardíacas e diabetes.

    "Atores e instituições devem trabalhar conjuntamente em todos os setores para reduzir mais efetivamente a desnutrição, a deficiência nutricional, o sobrepeso e a obesidade", diz o relatório.

   O órgão alerta ainda que, embora cerca de 870 milhões de habitantes do planeta ainda passem fome, segundo dados do biênio 2010-2012, outros bilhões sofrem com a má ingestão de alimentos.

     A FAO estima que 2 bilhões de pessoas têm deficiências de um ou mais micronutriente, enquanto outras 1,4 bilhão estão com sobrepeso, das quais 500 milhões já são obesas. Além disso, 25% de todas as crianças abaixo de cinco anos sofrem com baixa estatura e outras 31% possuem deficiência de vitamina A.

    “Comer insetos” para reforçar a segurança alimentar: esta é a orientação da FAO, que lançou nesta segunda-feira (13) um programa para incentivar a criação em larga escala de insetos, alimento rico em nutrientes, de baixo custo, ecológico e “delicioso”.
   Dois bilhões de pessoas em culturas tradicionais já os consomem, mas o potencial de consumo é muito maior, considera a Agência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.
   “Nossa mensagem é: comer insetos, os insetos são abundantes, eles são uma rica fonte de proteínas e minerais”, declarou Eva Ursula Müller, diretora do Departamento de Política Econômica Florestal na apresentação deste relatório em Roma.
   Os trilhões de insetos, que se reproduzem sem parar na terra, no ar e na água, “apresentam maiores taxas de crescimento e conversão alimentar alta e um baixo impacto sobre o meio ambiente durante todo o seu ciclo de vida”, defendem os especialistas.
   De acordo com seus cálculos, cerca de 900 espécies de insetos são comestíveis. A FAO enumera os benefícios da produção de insetos em larga escala: são necessários 2 kg de ração para produzir 1 kg de insetos, enquanto o gado requer 8 kg de alimento para produzir 1 kg de carne. Além disso, os insetos “são nutritivos, com um elevado teor de proteínas, gorduras e minerais” e “podem ser consumidos inteiros ou em pó e incorporados noutros alimentos”.
   A criação de insetos é simples, pois pode ser feita a partir de resíduos orgânicos, tais como restos de alimentos, e também a partir de compostos e estrume. Os insetos são extremamente ecológicos: usam muito menos água e produzem menos gases do efeito estufa do que o gado.
   O consumo de insetos, chamado de entomofagia, já é difundido e praticado há muito tempo entre culturas tradicionais em regiões da África, Ásia e América Latina. “Um terço da população mundial come insetos, e isso é porque eles são deliciosos e nutritivos”, ressalta Eva Ursula Müller.
   “Insetos são vendidos nos mercados de Kinshasa, nos da Tailândia ou em Chiapas, no México, e eles começam a aparecer nos menus de restaurantes na Europa”, argumentou. Alguns criadores de vários continentes entenderam as vantagens e começam a tirar proveito: eles começaram a usar os insetos como ingredientes alimentares, incluindo na aquicultura e na criação de aves.
De acordo com Müller, os insetos oferecem muito mais do que apenas nutrição. Eles também são usados para dar cor e formam uma das bases da medicina tradicional em muitos países. Para garantir a nutrição dos animais, os insetos são suscetíveis de proporcionar um complemento a outros recursos utilizados como soja e farinha de peixe.
   Gabril Tchango, ministro das Florestas do Gabão, elogiou o consumo de insetos que “faz parte da vida cotidiana”. Os “cupins grelhados são considerados uma iguaria em nossas florestas”, declarou, considerando que os insetos, em todas as categorias, contribuem com cerca de 10% da proteína animal consumida no Gabão.
    De acordo com a FAO, “até 2030, mais de 9 bilhões de pessoas vão precisar ser alimentadas, assim como os bilhões de animais criados a cada ano” para atender diversas necessidades, num momento em que “a poluição do solo e da água devido a produção intensiva de animais de pastoreio levam a degradação das florestas”.
    Outro argumento a favor da criação de insetos é que eles “podem ser colhidos em seu estado natural, cultivados, processados e vendidos pelos mais pobres da sociedade, como as mulheres e agricultores sem-terra. Os insetos podem ser coletados diretamente e facilmente em seu estado natural. Os gastos ou investimentos necessários para a colheita são mínimos”.

    A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura e a organização internacional ‘Slow Food’ firmaram um acordo em 15 de maio para desenvolver ações conjuntas para melhorar os meios de subsistência de pequenos agricultores que vivem em áreas rurais.
    Segundo o memorando de entendimento assinado pelas duas organizações, por um período de três anos, a união de forças promoverá sistemas alimentares e agrícolas mais inclusivos localmente, nacionalmente e internacionalmente.


     As iniciativas destacarão o valor dos alimentos e dos cultivos locais esquecidos, além de abordar o acesso ao mercado para os pequenos produtores, melhorando a conservação e uso da biodiversidade, a redução de perdas e desperdícios alimentos e a melhoria do bem-estar animal. Ao assinar o documento, o diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, disse que a “Slow Food e a FAO compartilham a mesma visão de um mundo sustentável e sem fome, salvaguardando a biodiversidade para as gerações futuras”. Segundo Graziano, o acordo é mais um passo em direção a esse objetivo.



    CANAL IBASE: A FAO divulgou em meados de maio um relatório afirmando que insetos podem ser um fonte de alimentação para populações que passam fome. O que o senhor achou desta afirmação, replicada por jornais e outras mídias no mundo inteiro?
FRANCISCO MENEZES: Todos os pesquisadores da área ficaram indignados com este estudo. Acho que temos que ter cuidado ao tornar pública esta indignação, porque é preciso debater qual o principal objetivo deles com isso. Mas, de qualquer forma, foi uma infelicidade. As pessoas têm que ter acesso à alimentação e ponto. Pensar em alimentá-las com restos é completamente descabido. Há populações que já comem insetos, mas é outra história, faz parte da cultura delas. Introduzir esse consumo é levar o olhar para uma perspectiva errada. Alimento há, o que falta é acesso.

   CANAL IBASE: De fato, o alimento só pode ser acessado atualmente por meio da compra ou do plantio. Quando não há dinheiro ou terra, a pessoa está excluída desse sistema, certo?
MENEZES: Exato. As corporações hoje tomam conta da maior parte dos alimentos produzidos no mundo e elas lidam com a comida como uma mercadoria qualquer. Embora o alimento tenha sido reconhecido como um direito básico dos brasileiros em 2010 (quando foi incluído na constituição do país), na prática pouca coisa mudou. Mas é preciso entender o sistema. Se as empresas do setor trabalham com a alimentação como mercadoria, é porque há permissão do estado para isso. O poder público permite que as corporações, nacionais e internacionais, lucrem com um direito tão fundamental à vida de qualquer pessoa. 

    CANAL IBASE: Por isso o senhor afirma que a fome é uma questão política
MENEZES: Sim, certamente ela é. Isso não é novidade, mas nunca foi assumido de verdade. Josué de Castro (médico e geógrafo, autor do livro “Geografia da Fome”) já dizia que deixar as pessoas morrerem de fome é uma escolha. Ele estava completamente certo. É um problema ligado à história da humanidade. A segurança alimentar, por exemplo, é um termo herdado dos militares, que foi transformado e usado pelo movimento social. Na guerra, cortar a alimentação é uma das maiores armas que se pode ter. Pode parecer dramático, mas, se você for pensar com cuidado, as corporações também têm nas mãos todos aqueles que não produzem seu próprio alimento. O preço do alimento mexe com a estrutura de uma sociedade.

     CANAL IBASE: Há situações de fome extrema no Brasil hoje que podem ser exemplificadas como uma escolha política?
MENEZES: Sim. Os indígenas são exemplo disso. A não demarcação de terras indígenas é um fator que leva à morte. Não olhar para isso é uma escolha do poder público, porque, embora esse fenômeno seja pouco falado, milhares pessoas, especialmente crianças, morrem de inanição na beira de estradas. Isso ocorre por falta de terra, pois etnias foram expulsas de seus territórios. O caso dos Guarani-Kaiowa (que veio à tona ano passado após a divulgação de uma carta anunciando um suicídio coletivo) é um exemplo disso. A Justiça leva seu tempo, mas enquanto isso não se define as pessoas morrem.

    CANAL IBASE: Além da inclusão das pessoas no sistema econômico, com geração de renda como possibilidade para comprar o próprio alimento, o senhor acha que a agricultura familiar é uma saída? 
MENEZES: A agricultura familiar é uma das soluções. A segurança alimentar só será atingida com uma série de políticas conjuntas. É preciso reconhecer que o governo atual, desde o início do governo Lula, na verdade, avançou bastante nesse sentido. Hoje, 30% da alimentação escolar tem que ser comprada de pequenos produtores, o que representa um grande mercado que alimenta 48 milhões de crianças por dia. Mas há muito a se fazer. A agricultura familiar continua em risco. 

     CANAL IBASE: Por quê?
MENEZES: Atualmente, a agricultura familiar ainda é responsável pela maior parte dos alimentos de consumo das famílias. A estimativa é que ela represente 70% da alimentação das famílias brasileiras. Mas o agronegócio ameaça a agricultura familiar. Como as pessoas buscam uma forma de alimentação cada vez mais rápida, mais prática, as compras são feitas em grandes mercados, e muitas famílias buscam grandes marcas do setor alimentício. Não se pode dizer que isso é saudável, mas é o que ocorre. As pessoas buscam enlatados, comidas congeladas e em saquinhos. As grandes empresas estão entrando na casa de cada vez mais gente. O que pouco se discute é a queda na qualidade dessa alimentação.

CANAL IBASE: O encontro do Fórum de Segurança Alimentar vai tratar esta questão? 
MENEZES: Essa é uma das principais questões. É preciso ampliar o acesso ao alimento, isso é um ponto-chave. Mas não se pode dizer que qualquer alimento tem o mesmo teor nutricional. Aí mora a questão, a qualidade da alimentação. É preciso não só comer, mas comer bem.




Como começou sua luta contra a Monsanto?
    Minha esposa e eu éramos produtores de sementes de canola (cultivada para produzir forragem, óleo vegetal para o consumo humano e biodiesel). Pesquisamos este cultivo durante mais de 50 anos. Em 1998, dois anos depois que introduziram os transgênicos no Canadá, a empresa Monsanto entrou com um processo contra nós. Nos processou por violação de patente, porque diziam que a nossa canola era fruto de suas sementes transgênicas. Foi uma surpresa para nós porque nunca compramos sementes geneticamente modificadas nem sabíamos da existência da Monsanto. O que tornou famoso o nosso caso em todo o mundo foi o fato de mostrar que podia acontecer a qualquer agricultor caso seu campo fosse contaminado com as sementes transgênicas. Nesse momento, o juiz decretou que não importava como havia ocorrido a contaminação com as transgênicas: se por polinização cruzada, polinização por abelhas, por sementes que entraram levadas pelo vento ou pelo próprio transporte de outros agricultores. Se isso acontece, então já não se é mais dono de suas sementes nem de suas plantas, pela lei de patentes. Também nesse momento foi decretado que não poderíamos usar as nossas sementes de novo por estarem contaminadas e que os nossos lucros por esse cultivo deviam ir para a Monsanto. Outra questão que o juiz decretou foi que o nível de contaminação não era importante: dá no mesmo se houve 1% ou 90% do campo contaminado, de qualquer forma já não se é mais o dono das suas plantas. A base da nossa luta foi pelos direitos dos agricultores, para que cada um tenha direito a plantar suas sementes ano após ano.

O que fizeram diante do processo movido pela Monsanto?
    O que mais nos doeu é que todo o nosso trabalho de 50 anos com a semente de canola agora pertencia completamente à Monsanto pela lei das patentes. Por isso decidimos continuar brigando, e recorremos à Corte de Apelação. Esta Corte federal manteve quase a mesma posição, inclusive a Monsanto tratou de nos prender de outras maneiras. Demandaram-nos novamente por um milhão de dólares. Trataram de nos destruir financeira e mentalmente. Vigiavam-nos quando estávamos trabalhando no campo, vinham à saída da garagem da nossa casa, a observar o que a minha esposa fazia, ela recebia telefonemas com ameaças e também acontecia o mesmo aos nossos vizinhos. E ainda hoje vivemos com medo. Então decididos ir à Suprema Corte. A Suprema Corte disse que não tínhamos que pagar nada à Monsanto, mas que ela teria que pagar os nossos custos legais. A Monsanto aceitou que nós não havíamos comprado sementes deles, no entanto, tínhamos que pagar a eles a licença pelas sementes. Se nós tivéssemos que pagar à Monsanto tudo o que eles queriam, teríamos que pagar com a nossa casa, a nossa terra e todos os equipamentos. Assim que foi uma vitória para nós ouvir a Corte sentenciar que nós não precisávamos pagar nada àMonsanto. Mas de todas as formas, é muito difícil para um agricultor lutar na Corte contra uma multinacional. Foi a Monsanto que nos processou e, no entanto, tivemos que pagar os custos legais deste processo. Isso não foi justo para nós, porque a Monsanto deveria ter pagado também os nossos custos.

Quanto tiveram que pagar e como enfrentaram esses gastos?
    Os gastos foram um pouco mais de 500.000 dólares. O pagamos com grande parte do nosso fundo de aposentadoria, hipotecas sobre nossas terras e também recebemos doações de muitas pessoas de todo o mundo que estão preocupadas com o tema das patentes de sementes e, sobretudo, o que diz respeito à nossa alimentação.
Como a sua lavoura foi contaminada com as sementes transgênicas?
Porque meus vizinhos estavam utilizando sementes da Monsanto e ao soprar o vento as trazia para o meu campo e o contaminavam. Eu nunca utilizei as sementes da Monsanto nem o Roundup (herbicida da Monsanto) na minha lavoura. Por isso apresentei uma contrademanda baseada na contaminação ambiental, destruição de sementes e calúnia. Desde esse momento a Monsanto nos espiou e tratou como criminosos. Detetives daMonsanto se instalaram perto do campo e controlavam cada passo que dávamos. A primeira coisa que dissemos à Corte é que um agricultor tem que ter o direito de utilizar suas sementes ano após ano. Para minha esposa e para mim, o mais importante é que ninguém, nenhum indivíduo nem uma corporação têm o direito de patentear formas superiores de vida, seja uma ave, uma abelha ou uma planta.

O que aconteceu depois deste episódio da demanda da Monsanto?
    Nós pensamos nesse momento que estava tudo terminado com a Monsanto. Decidimos mudar de cultivo e fazer pesquisa com mostarda, mas um tempo depois descobrimos que havia plantas de canola no campo em que estávamos pesquisando, que era de 50 acres. Nós comunicamos a Monsanto que acreditávamos que havia canola transgênica em nosso campo de mostarda. Então a Monsanto veio ao nosso campo e fez algumas pesquisas. Depois nos notificaram que havia canola de sementes da Monsanto em nosso campo de mostarda. Perguntaram-nos o que queríamos que fosse feito. Pedimos que toda essa canola fosse retirada manualmente. A Monsanto concordou. Dois dias antes do dia combinado para a retirada das plantas, enviaram-nos uma carta para que a assinássemos. E nessa carta aMonsanto estabelecia que minha esposa e eu estávamos proibidos de falar sobre aMonsanto com qualquer pessoa. Ou seja, que minha liberdade de expressão estava anulada, e se tivesse aceitado não poderia estar aqui falando com você.

O que responderam?
   Dissemos a eles que muitas pessoas morreram em nosso país lutando pela liberdade de expressão e que nós não pensávamos em entregá-la a uma corporação. Assim que respondemos à Monsanto que, com a ajuda de nossos vizinhos, iríamos retirar essas plantas. Com a ajuda dos nossos vizinhos removemos todas as plantas contaminadas e lhes pagamos 600 dólares. A verdade é que não foi muito dinheiro por três dias de trabalho. Mas mandamos a conta para a Monsanto e a Monsanto se recusou a pagá-la. Então mandamos a Monsanto àCorte, desta maneira, tivemos uma multinacional milionária na Corte por 600 dólares. Pode-se imaginar a vergonha da Monsanto, uma corporação internacional, ser chamada à corte por 600 dólares. Então, finalmente, tiveram que pagar os 600 dólares mais os custos legais e chegamos a um acordo de que não haveria mordaça legal. O importante não foi o dinheiro que tiveram que pagar, obviamente, mas importa a consequência legal. Porque se agora a lavoura de qualquer agricultora é contaminada, a empresa tem que pagar por essa contaminação. Esta foi uma vitória, não somente para nós, mas para os agricultores de todo o mundo, porque abre um precedente.

Você costuma dizer que no Canadá há vários cultivos, entre eles a canola, que já são completamente transgênicos. Por que os agricultores canadenses optaram por este tipo de sementes patenteadas?
    Em 1996 foram introduzidas quatro sementes transgênicas no Canadá: o algodão, o milho, a canola e a soja. E os agricultores se entusiasmaram porque a Monsanto dizia no começo que com as sementes deles iríamos ter uma produção maior, lucros maiores, seriam mais nutrientes, e teríamos que utilizar menos químicos para obtê-lo. Mas aconteceu todo o contrário; estamos utilizando mais químicos que antes, e fazem tanto mal à saúde humana como ao meio ambiente. Também repetiram uma série de lugares comuns como esse que através destas sementes iríamos alimentar um mundo cheio de fome. Mas creio que se há algo que vai nos levar a ter mais fome no mundo, isso são os transgênicos. Nós, no Canadá, tivemos transgênicos durante 16 anos e cremos que o prejuízo já está feito. Agora é preciso fazer o que é possível para não permitir que entrem mais transgênicos em nossos países.

O que aconteceu com as plantações de canola transgênica que se espalharam pelo Canadá?
    Imediatamente depois que se começou a utilizar estas sementes os lucros começaram a baixar. Mas o pior foi o aumento massivo no uso dos químicos, porque depois de alguns poucos anos as ervas daninhas se tornaram resistentes, causando enormes problemas às plantações de canola. Para eliminar esta super erva daninha, requer-se dos tóxicos mais fortes que já se teve notícia. A Monsanto produziu um tóxico, o mais tóxico que se conhece na face da Terra. Há outro químico que é o 2,4-D, que usam para matar esta super erva daninha, e este novo tóxico contém 70% do agente laranja, aquele que foi usado na guerra do Vietnã, em decorrência do qual milhares de pessoas morreram de câncer. Estes são os químicos poderosos que estamos usando hoje no Canadá, tóxicos massivos. Outra coisa que trataram de trazer ao Canadá é o gene terminator. O gene terminator é posto em um gene, a semente se converte em uma planta, mas a planta produz uma semente que é estéril, razão pela qual não pode ser usada para um novo plantio, e isso faz com que se tenha que comprar novamente as sementes da companhia.

Que implicações tem o uso de sementes transgênicas?
     Temos uma questão econômica, de saúde, devido ao aumento do uso de químicos e ao veneno espalhado sobre os transgênicos, e um prejuízo para o meio ambiente devido ao uso dos químicos. Os transgênicos nunca foram concebidos para aumentar os lucros. O padrão dos genes introduzidos nas sementes pela Monsanto é para manter o controle do fornecimento de sementes e de alimentos em todo o mundo. Também se toma o controle do direito que o agricultor tem de usar suas sementes, perde sua capacidade de escolha e fica refém da compra das sementes todos os anos e a pagar um custo alto, além do fato de que tem que comprar mais químicos.

Como são as sementes que você utiliza hoje, depois de todo este processo?
   Mudamos as sementes, não trabalhamos mais com a canola, estamos trabalhando com trigo, aveia e feijão. No Canadá a soja e a canola são totalmente transgênicas, não se pode ter uma fazenda orgânica destes cultivos. A Monsanto é hoje a companhia que administra totalmente o mercado das sementes para estes cultivos. Uma vez introduzidos os transgênicos, não existe a coexistência; o gene transgênico é um gene dominante, porque não se pode controlar o vento nem impedir que o pólen se desloque. Então, uma vez que as sementes transgênicas são introduzidas, não há possibilidade de que um agricultor continue com um desenvolvimento próprio de sementes.

Como vê o futuro da agricultura?
    Os transgênicos estão destruindo o tecido social do país, nunca vi isso antes, os agricultores brigam entre si. Antes nos ajudávamos uns aos outros; agora isto está desaparecendo porque há desconfiança. Instalam o medo processando os agricultores. Esta nova tecnologia é ciência perversa e não é ciência comprovada. As corporações querem o controle total sobre as sementes, o que lhes dará o controle total sobre o abastecimento de alimentos. É disto que tratam os transgênicos e não para ter mais alimentos para acabar com a fome no mundo. Se os agricultores perdem o direito de cultivar sua própria semente, convertem-se em serventes da terra, regressando à época do sistema feudal. De certa forma, os agricultores já são serventes da terra, porque têm que comprar as sementes de determinada companhia, têm que comprar a licença do alimento, têm que comprar os químicos da mesma companhia, têm que pagar um direito para cultivar em sua própria terra, assim que penso que já somos serventes em nossa própria terra por uma corporação multinacional como a Monsanto. Caso a propagação de organismos geneticamente modificados continuar, o controle total do fornecimento de sementes e de alimentos do mundo estará nas mãos de corporações como aMonsanto, e isto acarretará problemas para a saúde, questões ambientais e perda de biodiversidade. Com os organismos geneticamente modificados já não haverá agricultura, mas agronegócio.

No mundo:
Agricultores quenianos deitam fora 40% da comida que cultivam para mercado europeu
Para doar: Banco de Alimentos